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Como descobrir se você pode ter diabetes

A Organização Mundial da Saúde publicou um relatório alarmante neste ano: a diabetes já afeta quase 1 em cada 11 adultos no mundo, e os casos passaram de 108 milhões nos anos 1980 para 422 milhões em 2014.

O Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, é o quarto país do mundo com maior prevalência da doença. Estima-se que haja cerca de 14 milhões de diabéticos no país, ou 12% da população adulta.

Mas como saber se você pode ter a doença e deve procurar um médico?

Para responder a pergunta é preciso, em primeiro lugar, entender que há dois tipos diferentes de diabetes.

A do tipo 1 corresponde a mais ou menos 10% dos casos e atinge principalmente crianças e adolescentes. Neste tipo, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Luiz Alberto Andreotti Turatti, sintomas como sede, excesso de urina e cansaço são comuns.

Já os outros 90% dos casos são de diabetes tipo 2. Atinge, normalmente, pessoas com mais de 40 anos e está relacionada à obesidade e sedentarismo.

Mas, diferentemente do que ocorre no tipo 1, as pessoas que sofrem de diabetes tipo 2 não costumam apresentar sintomas.

“A gente chama o tipo 2 de doença silenciosa. Ela é traiçoeira, porque a maioria das pessoas não tem sintomas, a não ser que a doença esteja descontrolada”, diz Turatti.

Por isso, segundo Marcos Tambascia, professor especialista em endocrinologia da Unicamp, o conselho é que pessoas com mais de 45 anos façam check up regularmente para investigar se têm diabetes.

O censo sobre diabetes no Brasil, segundo ele, mostrou que 50% das pessoas afetadas não sabiam que tinham a doença. Muitas vezes elas só a descobrem quando as complicações da doença – como problemas de visão e nos rins – aparecem.

Ele afirma também que a melhor forma de prevenção é se manter dentro do peso e fazer exercícios físicos.

“Uma das principais causas do aumento de diabetes tipo 2 está associado ao envelhecimento, e como as pessoas vivem mais hoje, têm mais chance de ter diabetes. Sobre esse fator a gente não pode fazer nada. Mas os dois outros daria para prevenir: obesidade e sedentarismo”, afirma.

“Teoricamente é fácil, mas a gente sabe que na prática é difícil”, completa.

A BBC Brasil lista abaixo alguns sinais que podem indicar que você precisa procurar um médico:

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1) Sede

Ter sede em excesso pode ser um indicativo de diabetes.

Isso acontece porque, com o aumento de açúcar no sangue, a pessoa passa a urinar mais, o que gera desidratação e, consequentemente, sede.

2) Excesso de urina

Pessoas com diabetes costumam sentir que estão urinando mais – levantam mais à noite para ir ao banheiro, por exemplo.

“Quando aumenta o açúcar no sangue, o rim começa a filtrar açúcar, elimina açúcar pela urina. E aí a pessoa perde água junto, e isso desidrata, dá muita sede”, explica Tambascia.

3) Fome

Também causada pela desidratação e perda de glicose pela urina.

“Você perde caloria pela urina, perde açúcar”, explica Turatti. Isso, segundo ele, dá fome, para o corpo recuperar calorias.

 

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4) Tontura e cansaço

Esses sintomas não são específicos, mas são comuns em casos de diabetes.

Isso ocorre porque, quando o nível de açúcar no sangue está baixo, é como se as células não tivessem “combustível” suficiente para trabalhar.

Também pode ocorrer tontura devido à desidratação.

5) Perda de peso

Ocorre também como resultado da perda de calorias pela urina.

“Algumas pessoas têm um pouco de enjoo e um emagrecimento muito rápido, já que sem insulina você acaba queimando gordura”, explica Tambascia.

6) Visão embaçada

O paciente pode ficar com a visão embaçada ou fora de foco.

“Isso ocorre porque você também tem uma alteração no fundo do olho dos pacientes que estão com açúcar muito alto”, diz Turatti.

7) Infecções nas regiões genitais

Tanto homens quanto mulheres, segundos os especialistas, podem ter infecções na região genital.

“Elas aparecem por conta da alteração da imunidade que, muitas vezes, facilita infecção por cândida tanto no homem quanto na mulher”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

8) Idade e grupos de risco

Como a diabetes tipo 2 não costuma ter sintomas, a recomendação é que pessoas com mais de 45 anos façam um exame para detectar diabetes pelo menos uma vez por ano.

“A recomendação é que todo adulto com mais de 45 anos faça medida de glicemia uma vez por ano, que ele vá num clínico fazer o exame. Se tem antecedente de diabetes na família, deve fazer até antes, mais novo”, explica Tambascia.

Pessoas que estão acima do peso também devem ficar atentas, já que a diabetes tipo 2 está ligada à obesidade.

Mitos e Verdades

  1. Diabético não pode comer nada com açúcar. MITO: quando se está com a taxa de glicemia, o açúcar no sangue, muito acima do padrão, a recomendação médica é evitar ao máximo o açúcar. Mas, à medida em que o paciente consegue controlar a doença, ele pode, sim, consumir doces moderadamente. “Não existe proibição absoluta. Depois que a pessoa está com um controle bem feito, nada impede que coma um doce eventualmente. O ideal é que seja sempre de sobremesa, porque depois das refeições o açúcar não é liberado no corpo tão rapidamente”, recomenda o endocrinologista Felipe Gaia
  2. Não há restrições alimentares para os diabéticos além de evitar o açúcar. MITO: além do açúcar, diabéticos precisam tomar cuidado com o consumo de carboidratos, encontrados em produtos como batatas, massas, pães, tortas e, em especial, os feitos com farinha branca. “Uso uma metáfora: o acúçar é um tijolo; o carboidrato é como uma parede feita de tijolos. O corpo desfaz essa parede para usar os tijolos”, explica o endocrinologista Felipe Gaia. Assim como o açúcar, os carboidratos não estão completamente vetados da dieta, mas devem ser ingeridos com moderação
  3. Diabetes, na fase inicial, não provoca sintomas. VERDADE: na fase inicial da doença, o único indicativo é mesmo o exame de sangue. “Diferentemente de outras doenças, o diabetes não provoca dor. Até chegar às complicações severas, o paciente pode levar 10, 15 anos”, afirma o endocrinologista Felipe Gaia. Por isso, é importante que os pacientes sejam bem orientados pelos médicos, para que não fiquem relapsos com o tratamento
  4. Transplante de pâncreas pode curar o diabetes. PARCIALMENTE VERDADE: o transplante de pâncreas é uma cirurgia complicada, com riscos. Depois, o paciente vai precisar trocar a insulina por imunossupressores, para serem tomados durante toda a vida. E o órgão doado não costuma durar mais do que 10 ou 15 anos. Há ainda a dificuldade de se encontrar doadores. “Por tudo isso, o transplante só é indicado em último caso, para pacientes que estão fazendo o melhor tratamento possível, mas ainda assim têm muita flutuação da glicemia. Em geral, o transplante se faz para quem já está com os rins afetados; então, se faz o duplo transplante”, afirma a endocrinologista Denise Franco
  5. Comer doce demais pode causar diabetes tipo 2. MITO: o que faz com que a pessoa se torne diabética é o sedentarismo associado à obesidade e a uma inflamação discreta do tecido gorduroso. O componente genético também influencia. Não raro, uma pessoa obesa consome doces em excesso, mas não são eles que causam o diabetes. “Se uma pessoa come muito doce, mas faz exercícios, mantém sua cintura fina, é difícil que vá ter problemas com diabetes”, afirma o endocrinologista Felipe Gaia
  6. Todo diabético precisa tomar insulina. MITO: para quem tem diabetes do tipo 1 não há mesmo escapatória, já que o pâncreas não é capaz de produzir insulina. Mas para os pacientes diabéticos do tipo 2, que são 90% dos casos, a insulina pode ser dispensada se a doença for detectada e tratada no início. “Um diabético pode passar a vida inteira sem nunca precisar de insulina. Mas se o pâncreas for sobrecarregado e começar a ‘falhar’, a melhor solução é a insulina. Nesses casos, quanto antes, melhor”, explica o endocrinologista Felipe Gaia
  7. Diabetes é uma doença crônica que não mata. MITO: embora atualmente os tratamentos médicos evitem as mortes por coma diabético, a doença afeta diversas funções do organismo que colocam a vida em risco. Ou seja, ela mata, mas de forma indireta. “Um diabético tem seis vezes mais chances de ter infartos e derrames, assim como tem mais câncer. Outra causa secundária de morte são as complicações renais”, diz o endocrinologista Felipe Gaia
  8. Atividade física ajuda quem tem diabetes. VERDADE: durante os exercícios, o corpo usa a glicose como fonte de energia, ou seja, a atividade física tem um papel semelhante ao da insulina. Outra vantagem é que exercícios regulares levam à perda de peso, o que ajuda a melhorar o controle do diabetes. “A atividade física ainda contrabalança o estresse, um fator que agrava o quadro de diabetes”, diz a endocrinologista Denise Franco
  9. O estresse piora o diabetes. VERDADE: fatores de estresse podem, sim, piorar o quadro de diabetes quando já existe o problema, mas isso não significa que o estresse cause o diabetes. “O nível de açúcar sobe quando as pessoas ficam nervosas, assim como a adrenalina e o cortisol. Quando o pâncreas está comprometido, ele não aguenta essa elevação”, explica a endocrinologista Denise Franco. Segundo ela, o estresse tem o potencial de desbalancear os sistemas endócrino, imunológico e neurológico
  10. Diabéticos podem comer produtos diet à vontade. MITO: “Ninguém pode comer nada à vontade”, alerta a endocrinologista Denise Franco, diretora da Associação Diabetes Brasil. “Muitas vezes a gente nem recomenda o produto diet, como um chocolate, porque ele tem mais gordura, o que também faz mal”, diz. Já um doce de frutas com adoçante costuma ser uma boa opção de sobremesa diet
  11. Diabetes tipo 2 só aparece em adultos. MITO: até pouco tempo atrás, o aparecimento do diabetes tipo 2 (que está ligado ao sedentarismo e hábitos alimentares poucos saudáveis) era registrado em adultos, sobretudo a partir dos 40 anos. Mas hoje está cada dia mais comum também em adolescentes e crianças. “Até 15 anos atrás, a gente definia que o diabetes da criança era a tipo 1. Agora, isso não é mais verdade”, afirma a endocrinologista Denise Franco
  12. Cirurgias de redução de estômago/intestino curam o diabetes. MITO: embora a maioria das pessoas que passa por essas cirurgias registre melhora nos níveis de glicemia, se voltar a engordar, a doença retorna. “Por enquanto, o diabetes não tem cura. A pessoa vai ter de se preocupar sempre em manter a doença controlada”, informa a endocrinologista Denise Franco. As cirurgias bariátricas também não ajudam pessoas cujo pâncreas já foi danificado e não produz mais insulina
  13. Diabetes é genética. PARCIALMENTE VERDADE: no diabetes do tipo 1 há um forte componente genético, explica o endocrinologista Felipe Gaia. Filhos de uma mãe ou pai diabéticos têm 10% de chances de também desenvolverem a doença. Quando se trata do tipo 2, há uma série de causas, entre elas o fator genético, que deixa a pessoa mais propensa a ficar diabética. “Mas quem se cuida, se alimenta bem e faz exercícios, tem uma relativa proteção”, garante o médico
  14. Chá de pata de vaca é bom para quem tem diabetes. PARCIALMENTE VERDADE: embora tenha o potencial de diminuir a glicemia, o chá da planta conhecida como pata da vaca é contraindicado como forma de tratar o diabetes. “Ele aumenta a secreção de insulina, mas é muito difícil fazer o ajuste para a dose certa quando se trata de um chá. Quanto do princípio ativo tem em cada xícara? Você também não tem como saber se o solo, por exemplo, influenciou na ação da planta”, explica a endocrinologista Denise Franco
  15. Existe uma categoria de “pré-diabéticos”. VERDADE: essa denominação é recente, mas vem sendo usada por muitos médicos de 2010 para cá, diz o endocrinologista Felipe Gaia. Ela é utilizada para designar alguém cujos índices de glicemina e outros indicadores de diabetes ainda não atingiram o patamar para que o paciente seja considerado oficialmente um diabético, mas que estão muito próximos do limite. “É como um sinal amarelo, e piscando com força”, diz Gaia
  16. O diabetes do tipo 1 é pior que o do tipo 2. PARCIALMENTE VERDADE: o pâncreas do portador do diabetes tipo 1 não produz nenhuma insulina, o que torna o tratamento mais “trabalhoso”, segundo o endocrinologista Felipe Gaia, consultor do SalomãoZoppi diagnósticos e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Desde o início temos que fornecer insulina de forma a simular o trabalho do pâncreas”, afirma. Já no diabetes tipo 2, o pâncreas produz insulina, mas ela não consegue atuar corretamente no corpo. “No começo do tratamento, e se a pessoa se cuidar sempre, basta emagrecer e fazer atividade física”, diz. Mas, se o paciente não se cuidar, pode ficar com o pâncreas com a capacidade de produzir insulina totalmente comprometida, como o de um paciente do tipo 1
  17. Diabetes pode causar cegueira. VERDADE: embora o diabetes possa seguir muitos anos assintomático, uma das possíveis complicações de se ter a doença sem controle por um longo período é a cegueira. “O diabetes estimula o crescimento de vasos na retina, o que acaba levando a sangramentos. E também pode provocar o descolamento de retina”, afirma o endocrinologista Felipe Gaia
  18. Diabetes pode levar à impotência. VERDADE: com o passar dos anos, o diabetes sem controle passa a afetar o organismo de várias formas. Por exemplo, danifica os rins, que não conseguem dar conta de uma quantidade tão grande de açúcar. O excesso de açúcar também afeta os vasos sanguíneos e os nervos, o que causa falta de sensibilidade nas extremidades. “Se afetar os vasos da região peniana, fica difícil encher o pênis de sangue e manter a ereção, assim como pode afetar a sensibilidade”, explica o endocrinologista Felipe Gaia
  19. Existe diabetes que só aparece na gravidez. VERDADE: chamado de diabetes gestacional é a elevação dos índices de açúcar no sangue de mulheres que tinham taxas normais antes da gravidez. Os hormônios produzidos durante a gravidez dificultam a ação da insulina do corpo. Se a mulher já tem tendência, está acima do peso e tem mais de 35 anos, tem mais chances de que essa resistência seja elevada demais a ponto de se tornar um problema como o diabetes gestacional. ?Nas demais mulheres, o pâncreas aumenta um pouco a produção de insulina, porém, a pessoa não fica diabética?, diz o médico Felipe Gaia
  20. Há diabetes que são mais difíceis de se controlar. PARCIALMENTE VERDADE: “O diabetes é uma doença progressiva. Então, em alguém que tem o diagnóstico tardio, ou que não tratou adequadamente a doença desde o início, o controle vai ser mais complicado”, explica a endocrinologista Denise Franco. A médica diz, no entanto, que mesmo para os casos mais complicados, a tecnologia tem ajudado bastante no tratamento: há vários tipos de monitores e sensores de glicose, bombas de insulina etc.

Fonte:  BBC Brasil de 24/07/2016

 

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