De acordo com a OMS, mais de 60% dos brasileiros têm colesterol alto, mas apenas uma minoria tem o tipo mais severo da doença, até então sem tratamento eficiente.
O Dia Nacional de Combate ao Colesterol, celebrado em 8 de agosto, traz esperança para um grupo de pacientes que, nesta mesma data, no ano passado, não tinha como tratar o problema de forma eficiente. Há pouco mais de uma semana, o Food and Drug Administration (FDA), órgão governamental americano responsável pelo controle de medicamentos, aprovou uma nova classe de remédios que beneficiará, principalmente, quem tem a Hipercolesterolemia Familiar (HF), doença grave causada por uma alteração genética que leva ao aumento dos índices de colesterol desde a infância.
São os inibidores de PCSK9, anticorpos monoclonais capazes de inibir a proteína que reduz a capacidade do fígado de retirar o LDL, o chamado colesterol “ruim”, do sangue. O alirocumabe já está sendo vendido nos Estados Unidos, mas, segundo o cardiologista Raul Dias Santos, diretor da Unidade de Lípides do Instituto do Coração do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor/HC/FMUSP), o tratamento com as injeções quinzenais custa mais de U$$ 10 mil por ano. Outra opção é o evolocumabe, já liberado na Europa e em vias de ser aprovado pelo FDA. Uma possível terceira opção, o bococizumabe, ainda está em fase de testes.
O cardiologista Marcus Vinícius Bolívar Malachias, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia
Os inibidores conseguiram reduzir em até 60% os índices de colesterol, em cima do que já era reduzido pelo tratamento com estatinas. “É grande o impacto da chegada desses novos medicamentos, por enquanto nos Estados Unidos e Europa. Vejo essa nova classe como uma revolução no tratamento do colesterol alto. Estamos falando da possibilidade de um ganho adicional em cima daquilo que conseguíamos com o que havia de mais potente no mercado. Esses medicamentos permitem grandes reduções nos índices de colesterol, não atingidas apenas com os medicamnetos vigentes. Além disso, têm menos efeitos colaterais, como a dor muscular”, explica Raul.
Segundo Marcus Vinícius Bolívar Malachias, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia, isso ocorre porque os inibidores tornam os receptores ativos e, então, capazes de captar e metabolizar o colesterol ruim, o que não ocorre em algumas pessoas com hipercoleterlemia grave, onde o excesso de colesterol fica na circulação, acelerando a aterosclerose (envelhecimento das artérias). “De 70% a 80% dos casos de colesterol elevado podem ser controlados com dieta, exercícios e estatinas, mas há casos graves em que este tratamento convencional não resolve plenamente a situação. Nesses casos, os novos medicamentos atuam de forma precisa”, comemora.
Além dos inibidores de PCSK9, há outras duas opções de tratamento alternativo para formas graves de hipercolesterolemia familiar. Segundo Marcus Bolívar, também professor da Faculdade de Ciências Médicas e diretor do Instituto de Hipertensão de Minas Gerais, elas são a lomitapide (de uso oral) e o mipomersen (uma injeção sub-cutânea). Alguns brasileiros conseguiram ter acesso a esses medicamentos por meio de judicialização, ou seja, acionando a Justiça para que o governo pague a medicação, extremamente cara.
ANTICORPO MONOCLONAL:
Anticorpos são proteínas produzidas no nosso organismo para ajudar o sistema imunológico a combater vírus, bactérias e câncer por meio do reconhecimento de antígenos. Com o avanço da biotecnologia, tornou-se possível produzir, em laboratório, anticorpos monoclonais, ou seja, específicos para uma única região do antígeno. Essa tecnologia tornou os anticorpos monoclonais ferramentas de diagnóstico e medicamentos para diversas doenças.
HERANÇA RUIM :
Mais de 60% dos brasileiros têm colesterol alto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Tal condição representa risco aumentado para doenças cardiovasculares. Quem tem colesterol alto, por exemplo, tem mais chance de sofrer um infarto. A maioria tem o colesterol alto em função de hábitos pouco saudáveis, como dieta desequilibrada e sedentarismo. Mas em cerca de 10% a situação é causada pela Hipercolesterolemia Familiar (HF), que pode ser de dois tipos. Na forma heterozigótica, que atinge uma em cada 200 pessoas, o colesterol é de duas a três vezes acima do normal. Na homozigótica pode ser de quatro a cinco vezes maior, o que atinge uma em cada 300 mil pessoas. “São pacientes que infartam por volta dos 13 anos de idade.”
Os sinais clínicos da HF são exatamente esses valores muito elevados do LDL: acima de 200 mg/lg (heterozigotica) ou mais de 500 mg/dl (homozigótica). Outro sinal é o acúmulo de colesterol nas artérias, casos de pacientes com aterosclerose e doença cardiovascular prematura. A HF é responsável por 5% a 10% dos casos de doença arterial coronariana (DAC), quando placas se acumulam nas artérias que fornecem sangue ao coração. “Quem tem HF tem um risco 13 vezes maior de ter um problema cardíaco. Como é genética, uma em cada duas pessoas da família tem a doença. São pessoas que já nascem com colesterol alto”, explica Raul.
CONSCIENTIZAÇÃO E CUIDADOS :
A Hipercolesterolemia Familiar determina uma situação adversa na qual mudanças nos hábitos de vida não conseguem alterar o curso da doença. Mas a imensa maioria da população com colesterol alto pode se beneficiar de melhorias na dieta e mais atividade física. Segundo Marcus Bolívar, de 90% dos que têm colesterol alto o têm por herança de múltiplos genes associada a fatores alimentares e estilo de vida inadequado, e não por um gene específico, como ocorre na HF. Para essa maioria o problema é de conscientização. “É um contigente de pessoas que, mesmo sabendo dos riscos, não faz o tratamento adequado, por aversão a tomar remédio ou por acreditarem no discurso irresponsável de que ‘colesterol é uma invenção da indústria farmacêutica’”, alerta.
Fonte:
arolina Cotta – Estado de Minas
Publicação:11/08/2015