A boa notícia é que, ao voltar à rotina alimentar e ao peso de antes dos excessos, os níveis de gordura no plasma também normalizam
Das comemorações de dezembro, ficam os presentes, as recordações e as fotos engraçadas. Mas, na virada, boa parte da população também traz para o novo ano alguns quilos a mais na balança. Acrescidos, segundo um estudo da Universidade de Copenhague, de taxas elevadas de colesterol. A pesquisa, publicada na revista Atherosclerosis, é a primeira a demonstrar, em um grupo grande de pessoas, que as festas de fim do ano são seguidas de um aumento na quantidade de lipídios circulando no sangue. A boa notícia é que, ao voltar à rotina alimentar e ao peso de antes dos excessos, os níveis de gordura no plasma também normalizam. É importante, portanto, não se acomodar após as celebrações e correr atrás da silhueta perdida.
Os pesquisadores se basearam no Estudo Populacional Geral de Copenhague e usaram informações de 25.764 indivíduos com idade entre 20 e 100 anos. Eles constataram que, comparadas às pessoas que fazem exame de sangue entre maio e junho, aquelas examinadas de dezembro a janeiro apresentam taxa de colesterol 15% mais elevada. Considerando apenas o LDL — o chamado “mau” colesterol —, o valor é 20% maior no segundo grupo. Quanto mais próximo das festividades, maior o aumento dos lipídios no plasma. Entre os pacientes que entraram no estudo durante a primeira semana de janeiro, logo após as “orgias gastronômicas”, 77% tinham valores de LDL acima de 116 mg/dL, condição que caracteriza a hipercolesterolemia, e 89% apesentavam colesterol total acima de 193 mg/dL. Embora estatisticamente o estudo dinamarquês seja o maior a demonstrar a elevação sazonal do colesterol associada a um período festivo, os autores destacam que pesquisas realizadas anteriormente encontraram resultados semelhantes. No Reino Unido, uma pesquisa com 35 pessoas constatou que, imediatamente depois do Natal, houve ganho de peso e um pequeno aumento nos níveis de colesterol. Já nos Estados Unidos, cientistas descobriram, em uma amostra de 1.446 homens com diagnóstico prévio de hipercolesterolemia, que, após as festas, as taxas ficavam 7 mg/dL maiores que no meio do ano, uma elevação de 3%.
De acordo com os autores do artigo e com especialistas ouvidos pelo Correio, a pesquisa traz duas mensagens importantes. A primeira é a de que uma alimentação desregrada associada ao alto consumo de bebida alcoólica não só engrossa a silhueta, como provoca, muito rapidamente, um aumento do colesterol. Portanto, quem adota o excesso como regra, e não apenas no fim do ano, corre risco de hipercolesterolemia, uma condição que afeta a saúde cardiovascular, com consequências como acidentes vasculares e infartos. “É grande o número de pessoas que ganha até 6 kg depois das festas e não consegue recuperar depois. Isso vem ocorrendo inclusive entre crianças”, destaca Claudio Tinoco, diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (SOCERJ).
Já aqueles que se esforçam para voltar ao peso e aos hábitos de antes das festas não têm com o que se preocupar. “Para fazer mal, o colesterol alto tem de estar presente por períodos muito longos. Um aumento transitório não é suficiente para trazer consequências, desde que a pessoa consiga retornar ao peso normal”, esclarece Rodrigo Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
A outra lição do artigo é que o checape anual deve ser adiado para pelo menos fevereiro, pois há risco de se detectar a hipercolesterolemia e iniciar um tratamento desnecessário de controle do colesterol. “Nos surpreendeu um aumento de colesterol tão alto depois das festas. No nosso estudo, nove em 10 pessoas tinham níveis elevados após o Natal. Seria interessante fazer outro teste mais tarde”, diz Signe Vedel-Krogh, coautora do estudo dinamarquês. “Sejam aqueles que já têm hipercolesterolemia, sejam os que costumam ter taxas normais, há um risco aumentado de detecção de colesterol elevado se fizerem o teste logo após o Natal. É importante que tanto médicos quanto pacientes estejam atentos quanto a isso”, afirma.
Açúcar
Comidas gordurosas e álcool em excesso podem ser consideradas as principais responsáveis pelo aumento de peso e de colesterol após as festas de fim de ano. E o consumo de um ingrediente encontrado tanto nas iguarias quanto nas bebidas na época de comemorações aumenta muito nessa época, devendo ser regulado por quem está correndo atrás do prejuízo: O açúcar.
“No Natal, o consumo de açúcar dispara devido às bebidas e às comidas tradicionais. Um pedaço de torta vai fazê-lo ingerir toda sua dose recomendada diária do ingrediente, que é 30 g. Uma taça de quentão contém pouco menos da metade dessa dose, e um pedacinho de empadão, mais de 22 g de açúcar”, exemplifica Franco Cappuccio, da Faculdade de Medicina Warwick, nos Estados Unidos. “Além de ter um efeito prejudicial para a sua cintura, o consumo de açúcar acima das taxas recomendadas pode afetar a saúde de outras maneiras. Ingerir muito açúcar e calorias e aumentar muito o peso elevam o risco de problemas como doenças coronarianas, alguns tipos de câncer e Diabetes Tipo 2”, alerta.