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Microbiota Intestinal e Diabetes Tipo 2

Autor(es): Brett Moskowitz, MA.Revisado por Clifton Jackness, MD, Médico Responsável em Endocrinologia e Medicina Interna no Hospital Lenox Hill e no Centro Médico Mount Sinai em Nova Iorque, NY.
Fonte: MedPage Today.

Diversos fatores de risco contribuem para o Diabetes do Tipo 2, incluindo idade,histórico familiar, dieta, estilo de vida sedentário e obesidade.

Atualmente, pesquisas emergentes estão examinando como a microbiota intestinal pode contribuir para o risco de Diabetes Tipo 2. A microbiota intestinal povoa densamente todo o trato digestivo,exercendo uma função crucial na estrutura normal e desenvolvimento de um sistema imune de mucosas e afetando a absorção de nutrientes, regulação do metabolismo, angiogênese e desenvolvimento do sistema nervoso entérico.

A microflora intestinal é um bem saudável e benéfico, mas alguns componentes podem se tornar uma problema caso estejam associados a uma suscetibilidade genética a certas enfermidades.
Nestas circunstâncias, a microflora pode contribuir com a patogênese de diversos distúrbios intestinais e ter um impacto sistêmico na inflamação,por exemplo.

Um estado metabólico específico combinado com uma certa microbiota intestinal pode facilitar inflamação de baixo grau, caso fragmentos de bactérias gram-negativas (endotoxinas) sejam capazes de atravessar a mucosa intestinal para adentrar a circulação.

Pacientes com Diabetes Tipo 2 são particularmente suscetíveis a uma maior circulação de endotoxinas associada a mudanças dietéticas anormais. Na realidade,alguns especialistas defendem a normalização da microflora intestinal através de mudanças dietéticas.

Estudos já ligaram o consumo de carne vermelha ao desenvolvimento do Diabetes.

Porém, descobertas recentes em outras áreas aumentaram o interesse na potencial ligação entre a microbiota intestinal e o Diabetes Tipo 2. Embora estudos anteriores mostrem que um consumo regular de carne vermelha está associado à uma expectativa de vida mais curta, um amplo estudo sugeriu recentemente uma relação entre as funções da microbiota intestinal após consumo de carne vermelha e um risco aumentado de doença cardiovascular e eventos cardíacos. As descobertas apoiam a teoria de que a microbiota intestinal pode desempenhar função principal nas doenças metabólicas.

Os pesquisadores determinaram que, comparados a veganos ou vegetarianos, pacientes cujas dietas incluíam carne vermelha—rica em L-carnitina (uma trimetilamina)— produziam mais N-óxido de trimetilamina (TMAO). O TMAO é produzido à partir de L-carnitina nos intestinos humanos pela microbiota intestinal e é conhecido por acelerar a aterosclerose em roedores. Neste estudo, o nível de L-carnitina em quase 2600 pacientes que se alimentam de carne,ao submeter-se a avaliações cardíacas, previu maiores riscos de doenças cardiovasculares e infarto do miocárdio, AVC, ou morte, porém, apenas dentre os pacientes que também apresentavam altos níveis de TMAO. Esta descoberta aumentou a possibilidade de que a microbiota intestinal possa explicar ao menos algumas das associações entre o consumo de carne vermelha e riscos cardiovasculares.

Como estudos como este aplicam-se ao acompanhamento de pacientes com Diabetes Tipo 2?
A resposta não está clara, mas estudos menores já demonstraram que o Diabetes Tipo 2 em humanos está associado com uma composição de microbiota intestinal diferente quando comparada com a de pessoas não-diabéticas; mudanças que se manifestam principalmente nos níveis de filo e classe.

Um grupo de pesquisadores estudou a microbiota intestinal de 36 homens com uma variedade de índices de massa corporal (IMCs), metade dos quais apresentavam Diabetes Tipo 2. Comparados ao grupo de controle,proporções fecais do filo Firmicutes e da classe Clostridia foram significativamente reduzidas dentre os indivíduos portadores de Diabetes. A proporção entre Bacteroidetes e Firmicutes e relação entre o grupo Bacteroides-Prevotella e grupo retal C coccicoides-E foram significativamente e positivamente correlacio-nados com os níveis de glicemia mas não ao IMC.

Além disso, a classe Betaproteobacteria estava altamente enriquecida em indivíduos diabéticos, se comparados a pessoas não-diabéticas e positivamente correlacionada com a glicemia.

Avanços como estes levaram a consideráveis expectativas entre os pesquisadores sobre o que está por vir. “Estes são tempos emocionantes, de uma perspectiva de pesquisa,” diz Stanley L. Hazen, MD, PhD,e co-autor no estudo sobre L-carnitina e presidente do Departamento de Medicina Celular e Molecular; chefe de seção de Cardiologia Preventiva e Rehabilitação;e vice-presidente de pesquisa translacional,Lerner Research na Cleveland Clinic “Há 5 anos eu jamais imaginaria que pudesse haver uma conexão entre micróbios intestinais e tanto doenças cardíacas quanto o Diabetes Tipo 2.”

Ao menos um estudo está em andamento para avaliar o uso de probióticos para reduzir níveis de endotoxinas e respostas inflamatórias em pacientes sofrendo de Diabetes Tipo 2. Os pesquisadores levantaram a hipótese de que prébióticos/probióticos oferecereriam uma intervenção adicional ao tratar estes pacientes.

À luz das descobertas de que a microbiota intestinal possa diferir entre populações de pacientes com diferentes anomalias metabólicas, pesquisas futuras serão necessárias a descobrir estratégias terapêuticas direcionadas para estas diferentes populações.

“Estamos muitos passos mais próximos dos futuros grandes avanços em novos e poderosos exames diagnósticos e intervenções terapêuticas para prevenção e tratamento de enfermidades cardiometabó-
licas,” diz Dr. Hazen. “Porém ainda é cedo para tornar esta informação em medidas de ação sobre como tratamos nossos pacientes.”

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