No mundo, são cerca de 420 milhões de adultos diabéticos
Glicosímetro sem picada no dedo é um dos avanços do tratamento
São Paulo – A cada 7 segundos, em todo o mundo, uma pessoa morre por complicações causadas pelo diabetes. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a doença atinge 9 milhões de brasileiros. Segundo estudo publicado em abril pela Organização Mundial de Saúde, o número de adultos com diabetes quadruplicou em todo o mundo em menos de quatro décadas, chegando a 422 milhões de casos. Em 2035, estima-se que o número de diabéticos e pessoas em estágio prediabetes somados ultrapassem 1,1 bilhão de pessoas. O número de brasileiros com a condição deve subir para 20 milhões. Para chamar a atenção para a doença, este ano o Dia Mundial da Saúde, celebrado em abril, escolheu o diabetes como tema.
O cenário assusta, principalmente porque, apesar de ser uma doença crônica que pode evoluir para a morte, apenas metade dos diabéticos brasileiros estão diagnosticados e tratados. Mas uma notícia positiva acompanha este cenário: a evolução dos tratamentos – dos medicamentos às formas de mensurar os níveis de glicose – está permitindo um maior controle da doença e mais qualidade de vida aos pacientes. A recém lançada toujeo, uma insulina glargina de última geração e com liberação ainda mais lenta que a lantus, considerada padrão ouro de tratamento, dispensa, por exemplo, a necessidade de refrigeração após ser aberta pela primeira vez. A facilidade de transporte sem dúvidas é um motivo para maior adesão.
A toujeo, disponível em solução injetável (300 U/ml), com aplicação via caneta descartável, avança também por oferecer um efeito estável e prolongado do controle do nível glicêmico para além das 24 horas já oferecida por lantus, também uma insulina do tipo glargina. Isso permite mais flexibilidade ao paciente, que precisa tomar a medicação diariamente, mas não em horários tão rígidos como era exigido no passado. A insulina funciona de acordo com o metabolismo do indivíduo e sua concentração maior age por mais tempo. Ela é indicada apenas para pacientes com mais de 18 anos e prediabetes; similar à lantus, mas ambas continuam sem oferta na rede pública.
O diabetes está diretamente ligado aos maus hábitos de vida da população. Doença autoimune, ele é caracterizado pelo aumento de glicose no sangue. Segundo a endocrinologista Denise Franco, pesquisadora do Centro de Pesquisas Clínicas e coordenadora do Departamento de Novas Terapias da Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença se instaura quando há uma produção deficiente de insulina, parcial ou total, pelo pâncreas, resistência à ação da insulina ou ambos. São três os tipos – 1, 2 e gestacional – sendo que o segundo está bastante atrelado à obesidade e ao sedentarismo, além de ter um importante componente genético. Esses representam 84% dos casos.
Há décadas, a insulina é um dos pilares de tratamento do diabetes. Mesmo assim, ainda há importantes necessidades médicas não atendidas para o paciente. Cerca de metade deles não atinge o controle glicêmico ideal e isso significa que o nível de glicose no sangue fique muito alto (hiperglicemia) ou muito baixo (hipoglicemia), o que pode ser fatal. Segundo a cardiologista Luciana Giangrande, diretora médica da Sanofi, estudos mostram que episódios frequentes de hipoglicemia aumentam em quatro vezes o risco de desenvolvimento de uma doença cardiovascular, além de levar a uma diminuição da função mental e até a demência.
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) defende que apesar de avanços importantes e decisivos para o estabelecimento de critérios de diagnósticos, ainda há muito a ser feito. Nos últimos anos, surgiram novas opões de controle da hiperglicemia, com impacto sobre o peso. Ao atuar em diferentes mecanismos, os novos tratamentos trazem benefícios para o paciente, mas não necessariamente sua adesão. Há grande resistência em iniciar o tratamento com insulina, mas, segundo Denise Franco, essa continua sendo a opção mais eficaz. “Infelizmente, a insulinização é iniciada com cinco anos de atraso, impedindo que esse paciente estivesse melhor protegido mais precocemente.”
Novos estudos indicam menos complicações
Se não tratado, o diabetes pode causar insuficiência renal, amputação de membros, cegueira e doenças cardiovasculares, como AVC (derrame) e infarto. As complicações cardiovasculares são a principal causa de internações e morte dos diabéticos, mas os riscos podem ser diminuídos com o tratamento adequado. O estudo Leader, apresentado no 76º Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA), no início do mês, nos Estados Unidos, mostrou que a liraglutida, conhecida e disponível para baixar a glicose, pode diminuir em 13% os riscos de desenvolver complicações no coração.
O estudo clínico envolveu 9.340 adultos com diabetes tipo 2 com alto risco cardiovascular de 32 países. O Brasil teve o segundo maior número de participantes, com 939 pacientes e 33 centros. Os principais resultados foram apresentados no ADA 2016 e publicados no New England Journal of Medicine. A liraglutina, que ficou famosa há alguns anos pelo seu efeito colateral de baixar o peso é o único remédio que demonstrou redução superior de eventos cardiovasculares graves em comparação ao placebo, ambos em conjunto com o tratamento padrão. Além disso, a medicação, injetável, promoveu uma redução de 22% na taxa de mortalidade cardiovascular de 15% de mortalidade por todas as causas (infarto do miocárdio não fatal e AVC não fatal) em comparação ao placebo. “Essas descobertas são animadoras, pois demonstram que a liraglutina promove resultados que vão além da redução da glicose e da perda de peso, ajudando a evitar complicações cardiovasculares e óbito em pessoas com diabetes tipo 2. Os tratamentos para o diabetes tipo 2, que também podem reduzir o risco cardiovascular, são importantes, já que essa é a principal causa de óbito nessa população de pacientes no mundo inteiro”, afirmou John Buse, chefe de Endocrinologia e diretor do Centro de Tratamento de Diabetes da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte.
Outro importante estudo apresentado no ADA, e publicado também no The New England Journal of Medicine, mostrou a eficácia da empagliflozina na prevenção de complicação renal em pacientes adultos com diabetes tipo 2 e alto risco cardiovascular. A medicação reduziu, de forma expressiva, o risco de doença renal em adultos com diabetes tipo 2, complicação que chega a afetar metade dos pacientes diabéticos. A redução do risco foi da ordem de 39% de início ou piora de doença renal, em comparação com indivíduos que receberam placebo associado à terapia padrão. “Essa descoberta é clinicamente relevante, considerando que uma em cada duas pessoas no mundo com diabetes tipo 2 desenvolve problemas nos rins, podendo evoluir para insuficiência renal e, eventualmente, para a necessidade de diálise”, observa o endocrinologista Alexandre Benchimol, da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-RJ.
Rotina sem picadas
As rotineiras picadas no dedo para medição da glicose logo serão coisa do passado para os brasileiros com diabetes. Já está disponível no Brasil o FreeStyle® Libre, uma tecnologia revolucionária de monitorar a glicose para diabéticos. O sensor é do tamanho de uma moeda de R$ 1 e é aplicado de forma indolor no braço. Ele capta os níveis de glicose por meio de um microfilamento que, sob a pele e em contato com o líquido intersticial, mede a cada minuto a glicose presente no líquido. Cada sensor pode permanecer no braço do por até 14 dias.
* A repórter viajou a convite da Sanofi , por Carolina Cotta – Estado de Minas Publicação:29/06/2016