Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, na última década o aumento de obesidade e diabetes foi de 60% e 61%, respectivamente
Criado na década de 1940, o Dia Mundial da Alimentação foi comemorado nesta segunda-feira, dia 16 de outubro, com a finalidade de alertar a população sobre a necessidade de uma nutrição consciente e hábitos alimentares saudáveis. O tema tem ganhado bastante espaço com a publicação de dados alarmantes, que indicam o aumento da obesidade, colesterol e hipertensão. Com isso, é conveniente perceber se as pessoas estão indo na direção correta em busca de uma alimentação mais equilibrada ou fazendo o caminho contrário.
Antes de mais nada, é preciso entender a relação que vem sendo criada com a alimentação ao longo dos últimos anos. Cada vez mais comuns no dia a dia de muitos, as dietas restritivas, por exemplo, levantam o seguinte questionamento: Fazemos do alimento um aliado ou um inimigo? “A ciência da nutrição já passou por diversas fases. Ovos, pães, manteiga, leite e muitos outros alimentos já foram vistos como vilões da nossa dieta. A comida virou tema científico, com quantidade, jeito certo de preparar e de consumir”, comenta a nutricionista Marcia Daskal.
Buscar uma dieta saudável tem a ver com a relação que se tem com o alimento em si. Com tantas recomendações sobre o que deve ser ingerido, além das proibições, a informação que chega ao consumidor dificulta sua educação e autonomia no momento de definir o que pode ser incluído na rotina, e como isso deve ser feito – e isso vale principalmente para aqueles alimentos que proporcionam a sensação de prazer.
“Sentir-se feliz com a comida e com o próprio corpo não é uma realidade tão distante de nós a ponto de não podermos mudar o rumo da nossa alimentação. Quando foi que deixamos de levar marmita da festinha, com bolo e brigadeiro, para levar marmita para a festa? Comer não tem que ser chato e nem científico”, afirma a nutricionista.
Medidas que buscam controlar o consumo de alguns alimentos, como é o caso do aumento de impostos sobre bebidas açucaradas, ainda são vistas como maneiras eficazes para alcançar esse objetivo, quando, na verdade, são uma forma de punição ao consumidor. “As pessoas devem ser informadas sobre os nutrientes dos alimentos, e não aterrorizadas. A informação deve ser clara e a decisão deve partir do consumidor. Não basta dizer ‘coma isso’, ‘não chegue perto daquilo’ ou taxar produtos para inibir seu consumo”, comenta Márcia Daskal. Para isso, a chave é, mais uma vez, a educação, junto do equilíbrio e bom senso.
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“Antigamente, os cientistas não entendiam como os franceses não tinham colesterol alto e problemas do coração, mesmo comendo gordura e açúcar, o que ficou conhecido como ‘O Paradoxo Francês’ e dominou a mídia nos anos 1990. Porém, depois de certo tempo, ficou comprovado que a justificativa é o estilo de vida que levavam (e ainda levam) – eles caminham, cozinham, comem com calma e em porções pequenas – o que faz com que comer açúcar e gordura e tomar vinho não tenha um impacto negativo na saúde”, ressalta a especialista.
A melhora da qualidade de vida, portanto, não está somente atrelada aos hábitos alimentares. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicados em 2016, a equação não é tão simples assim. Os resultados da pesquisa realizada indicam que a população brasileira passou, ao longo dos últimos anos, a ter hábitos de vida mais saudáveis, aumentando o consumo regular de frutas e hortaliças e reduzindo o de refrigerantes e sucos artificiais. Porém, os índices de obesidade, hipertensão e diabetes continuam altos.
Segundo dados do Vigitel Brasil 2016, o brasileiro está passando por um momento de transição, saindo da desnutrição e caminhando para a obesidade. Só nos últimos 10 anos, o aumento no índice de obesidade foi de 60%. Doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, diabetes e câncer respondem por 74% dos óbitos no Brasil e são as principais causas de mortes no país.
Para o preparador físico Marcio Atalla, “ainda que exista a redução no consumo da gordura, sal, açúcares e mais frutas, fibras ou alimentos in natura, nada vale se não nos atentarmos para a relação entre a quantidade de calorias consumidas e gastas. Dessa forma, a atividade física é um fator determinante para a saúde da população”, comenta. Além disso, 78% das pessoas são consideradas sedentárias por não atingirem o mínimo de atividade física proposta pela OMS.
Marcio acredita que “atividades físicas regulares, que estejam adequadas ao estilo de vida de cada um e que se sustentem por mais tempo, são recomendações que devem ser seguidas por todos. Com isso, pode-se adquirir o equilíbrio, comendo de tudo um pouco”. Extremismos em dietas e atividades físicas tendem a não ser sustentáveis por muito tempo, o que dificulta o controle da própria saúde.
Com isso, é evidente a necessidade de implementação de políticas públicas que mostrem o caminho a ser seguido e auxiliem nessa trajetória. “Assim como a mãe que apenas proíbe o filho de comer doce, mas a criança continua pedindo aquele brigadeiro, de nada adianta a imposição se não há educação”, completa Atalla.
Para comer, não é preciso receita, apenas bom senso, porque saudável é comer de tudo. “Isso faz com que a pessoa se alimente de forma mais tranquila. A proibição gera desejo e compulsão. Mais saciadas, as pessoas passam a comer menos e somente quando têm vontade”, finaliza.