As consequências da alimentação com muita gordura sobre as condições metabólicas estão bem estabelecidas. Obesidade, diabete tipo 2 e aterosclerose são desfechos bem conhecidos deste tipo de padrão alimentar, tão comum nos dias de hoje.
Pesquisas recentes, utilizando tanto estudos clínicos como modelos animais, demonstram uma associação entre estas desordens metabólicas com alterações do humor, principalmente ansiedade e depressão, levantando a possibilidade que ocorra uma ligação bidirecional entre estes dois grupos de patologias. Um mecanismo de conexão pode estar associado ao sistema regulador de serotonina, que é o neurotransmissor cerebral alterado na depressão e ansiedade. Tanto a diabete como alterações de insulina são fatores que modificam o sistema serotoninérgico.
Um estudo recente, publicado online na revista científica British Journal of Pharmacology investigou, em camundongos, a relação entre os distúrbios metabólicos produzidos por uma dieta rica em gorduras com possíveis alterações cerebrais que ocorrem na ansiedade e depressão. Para isso, os pesquisadores administraram uma dieta rica em gorduras aos animais e avaliaram tanto os parâmetros metabólicos quanto os comportamentos que caracterizam ansiedade e depressão. No seguimento, foi testado, em outros grupos de animais, se um fármaco antidepressivo ou a retirada da dieta rica em gordura revertiam os efeitos metabólicos e as alterações comportamentais.
Como era esperado, a dieta rica em gorduras produziu um aumento no peso, aumentou o açúcar no sangue (glicemia) e diminuiu a tolerância à glicose. Estas alterações metabólicas foram associadas a comportamentos que caracterizam ansiedade e depressão. Os animais apresentaram também uma redução nas concentrações de serotonina em uma região do cérebro chamada hipocampo, onde níveis maiores estão ligadas a um melhor humor.
Curiosamente, o uso de antidepressivo não reverteu a ansiedade e depressão, ao passo que a retirada da dieta rica em gorduras aboliu completamente as alterações metabólicas e reverteu a depressão e ansiedade, mesmo que parcialmente.
Estes resultados poderiam explicar porque o tratamento antidepressivo não tem efeito em alguns casos de pacientes diabéticos ou obesos. Os resultados evidenciam também uma alteração cerebral (redução da serotonina) que poderia ser o ponto de ligação entre os dois tipos de doença.
Enquanto mais estudos estão sendo conduzidos para tentar esclarecer completamente esta ligação seria prudente reduzirmos nossa ingestão de gorduras, tão facilmente presente hoje na nossa alimentação.
Autor: Equipe ABC da Saúde
Portal R7 – Saúde
Referência Bibliográfica
- –British Journal of Pharmacology – doi: 10.1111/bph.13343