A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) vai discutir, em um simpósio hoje (29), os procedimentos curúrgicos em que são utilizados robôs. O presidente da entidade, Josemberg Campos, explicou que, neste caso, o cirurgião não fica em contato direto com o paciente, que é operado a distância.
Entre as vantagens, o paciente tem menor dor e se recupera de maneira mais rápida, enquanto o cirurgião tem menor desgaste. “O paciente, recebendo uma cirurgia menos invasiva, tem recuperação mais rápida, consegue realizar suas atividades habituais e ir ao trabalho poucos dias após a cirurgia. Finalmente, é uma cirurgia mais segura, porque a visualização que o cirurgião tem da área do abdômen é muito melhor. A definição da imagem que o cirurgião observa é perfeita, o que lhe permite ter maior e melhor controle de toda a cirurgia”, afirmou Campos.
O seminário ocorre durante o 21º Congresso Mundial da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO, a sigla em inglês), aberto quarta-feira (28) no Rio de Janeiro, que tem como tema central a obesidade em adolescentes e a cirurgia bariátrica indicada para jovens, inclusive feita por robôs.
Usado em outras áreas
Embora já seja adotada em outros campos da medicina, a cirurgia robótica começa agora a ser usada também para pacientes obesos. “A diferença para os pacientes obesos é que os novos equipamentos da cirurgia robótica vêm com maior e melhor adaptação. Essa é a novidade do congresso”. No Brasil, a técnica é aplicada para adultos e adolescentes.
Outra novidade é a cirurgia por via endoscópica. Antes, o tratamento da obesidade feito pela endoscopia era o balão, que é colocado no estômago por esse meio. No congresso está sendo feito o lançamento da sutura endoscópica. “A cirurgia bariátrica pode ser feita por meio de sutura. Isso também vai no caminho da cirurgia minimamente invasiva”, disse o presidente da sociedade. São novidades que chegam ao Brasil, onde os especialistas da área também desenvolvem pesquisas e o país também exporta novidades. “Foi aqui que se desenvolveu o balão intragástrico e algumas técnicas endoscópicas que resolvem problemas relacionados à obesidade”.
Obesidade entre adolescentes
No Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 3,1 milhões de adolescentes entre 13 e 17 anos de idade que estão com excesso de peso, dos quais 1 milhão é de obesos. Segundo Campos, esse fenômeno acompanha uma ”epidemia” de obesidade que vem ocorrendo também em adultos.
“Essa situação foi identificada inicialmente em adultos e, agora, as novas gerações também estão apresentando isso”. O alto índice de obesidade em crianças e adolescentes significa que “o futuro será sombrio, porque a criança e o adolescente de hoje serão os adultos de amanhã”. Ele diz que se já tem obesidade na adolescência, a pessoa vai levar essa doença para a vida adulta, com o agravante que a obesidade, existindo em um paciente por vários anos, vai trazer outras doenças associadas, como diabetes e hipertensão. Existem quase 70 doenças associadas à obesidade.
A obesidade em crianças é resultado de um estilo de vida inadequado, explicou o especialista. As crianças hoje estão “praticamente confinadas em um apartamento”. Fazem pouca atividade física e se dedicam a jogos diante do computador ou com aparelhos eletrônicos, onde passam a maior parte do tempo, ingerindo simultaneamente alimentos hipercalóricos, de baixo teor nutricional, do tipo fast food e refrigerantes.
Segundo Campos, houve a substituição das clássicas refeições que existiam antigamente pelo consumo frequente e em pequena quantidade de alimentos hipercalóricos, com baixo teor de proteínas, carboidratos em excesso, sem vitaminas. O que se observa, em consequência, é a apresentação da obesidade em crianças e adolescentes e, ao mesmo tempo, algum grau de subnutrição ou mesmo desnutrição. “Dependendo da intensidade e do tempo em que essa criança ingere esses alimentos inadequados e se essa ingestão for muito intensa, isso vai levar até mesmo a um quadro de obesidade e desnutrição”.
Preocupação
A SBCBM quer apresentar o problema para a sociedade, indicando quais são as medidas preventivas para evitar essa explosão da obesidade na fase infantil e na adolescência. Outra preocupação é tratar aqueles obesos que efetivamente não conseguem ter a doença controlada por outros meios clínicos e de mudança de hábitos. “São aquelas crianças que já apresentam a obesidade mórbida, severa, associada à presença de doenças, como diabetes e hipertensão”.
O aumento da obesidade entre as crianças e adolescentes é preocupante no Brasil especialmente, disse Campos, porque o país tem grande massa populacional e está com uma taxa de obesidade muito elevada. Os últimos dados do Ministério da Saúde, do ano passado, revelam que 52% da população brasileira têm algum problema relacionado a peso: têm obesidade, que é massa corpórea acima de 30, ou têm índice de massa corpórea acima de 27. “Isso significa que eles estão obesos ou têm peso elevado mas ainda não são obesos”.
Cirurgia em adolescentes
As indicações para cirurgia bariátrica em adolescentes são semelhantes às usadas para adultos, explicou o presidente da SBCBM. “Ter índice de massa corpórea acima de 40, sem doença; ou ter índice de massa corpórea acima de 35 e também apresentar doença. Essa é a indicação global”.
A diferença da indicação cirúrgica reside no fato que o adolescente tem peculiaridades que requerem uma avaliação mais adequada, tais como a idade óssea, porque a cirurgia pode trazer efeitos colaterais. A cirurgia tem que controlar o peso, “mas não pode criar mais um problema”. Por isso, a avaliação tem que contar com o apoio de um pediatra.
Campos revelou que será iniciado em novembro o registro nacional da cirurgia bariátrica, com apoio da SBCBM, que reunirá informações de todos os cirurgiões do país, com detalhes referentes a idade, sexo, peso, entre outros aspectos dos pacientes.
Fonte: por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil , Rio de Janeiro: 30/09/2016
Edição: Fábio Massalli