A cada seis segundos uma pessoa morre vítima da doença no mundo. No Brasil, 72.200 perdem a vida para o mal a cada ano. Sem sintomas, 50% dos pacientes ignoram totalmente sua condição
“Não é fácil ficar longe de doces, mas a gente acaba se acostumando. O diabetes é uma doença ingrata” – Maria Regina Carvalho, vendedora autônoma, recebeu o diagnóstico definitivo após a menopausa (foto: Beto Novaes/EM/DA Press).
San Diego, Califórnia – Os números são assustadores. Mesmo sendo considerada uma doença silenciosa, o diabetes faz barulho entre pesquisadores, endocrinologistas, cardiologistas e clínicos de todo o mundo e é uma preocupação cada vez maior da comunidade médica. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ela mata quatro vezes mais que a Aids. Os dados foram divulgados durante a 77ª Reunião da Associação Americana de Diabetes, com a participação de 15 mil especialistas, em San Diego, na Califórnia (EUA). Os especialistas não apresentaram números, mas garantem que o diabetes, inclusive, mata mais que a Aids e câncer, juntos.
No Brasil, a situação não é diferente, com o agravante de que a classe de fármacos oferecidos pela rede pública de saúde são os mesmos da década de 1980 – metformina e sulfonilureias. A cada ano, o diabetes mata 72.200 brasileiros com idade superior a 30 anos de um total de mais de 16 milhões de diabéticos.
A previsão para 2040 ainda é mais aterrorizante: se continuarmos nesse ritmo, 642 milhões de pessoas em todo o mundo terão diabetes, o que corresponde a um adulto com diabetes a cada 10 em todo o planeta.
CONHECIMENTO
Segundo Antônio Roberto Chacra, endocrinologista no Hospital Sírio-Libanês e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não há dúvidas de que a prevalência de diabéticos cresceu em todo o mundo nos últimos anos. “Somente 5% dos pacientes talvez tenham acesso aos diabetologistas, por isso é importante que o conhecimento seja transmitido a clínicos gerais, cardiologistas, médicos que atuam no sistema público de saúde etc.”
Chacra destaca que o tratamento básico do diabetes (metformina, sulfonureias e fitas) é oferecido pela rede pública, mas acrescenta que medicamentos mais modernos ainda não estão disponíveis, obrigando determinados pacientes mais graves a recorrer à Justiça. “O que precisamos é ensinar melhor educadores, enfermeiros, nutricionistas, ou seja, uma equipe multidisciplinar para que o paciente seja assistido adequadamente. Precisamos tratar do paciente antes das complicações.”
Expor estatísticas, números e previsões alarmantes sobre os males da doença talvez não seja a melhor e única forma de alertar a população quanto aos perigos da morte à espreita. Mas ouvir casos de pessoas comuns, que cuidam mais ou menos da saúde, pode servir para a mudança de hábitos e para uma reflexão quanto ao futuro do tratamento.
Para o professor de História Harethon Silveira Domingos, de 40 anos, o diabetes (tipo 1) apareceu ainda na infância. Aos 11 anos, ele percebeu que estava urinando demais, inclusive na cama, de madrugada. Quando recebeu o diagnóstico, estava magro, fraco e desanimado. “Tive os sintomas clássicos do diabetes mellitus infantil.”
APOIO DA FAMÍLIA
Idas ao endocrinologista, controle do índice glicêmico, dieta balanceada, atividade física e o apoio irrestrito da família. Embora diga que não é o ‘paciente perfeito’, Harethon incorporou bem um novo estilo de vida desde pequeno. “Fiz natação por uns dois anos, depois comecei a fazer artes marciais e nunca mais parei.”
Adepto do karatê tradicional, ele diz que a modalidade o ensinou, de certa forma, a lidar bem com o diabetes. “Hoje vejo que passei mais tempo de vida sendo diabético que não e não consigo me desconectar da minha realidade. O diabético não tem opção. É uma condição e se você quer ter uma vida saudável, tem que respeitar certos limites.”
Ele recomenda que todo diabético faça a contagem diária de carboidratos. Para facilitar seu dia a dia, Harethon faz uso de um dispositivo – um sensor – que a todo momento informa a glicemia. Com isso, ele gasta em média R$ 500 por mês, mas consegue controlar a glicose, sem prejuízos à saúde. Seu irmão também tem diabetes e os dois acabam ‘trocando figurinhas’, o que acaba sendo um incentivo para que o tratamento seja conduzido positivamente.
Mas o professor confessa que ser diabético não é bom. “Não existe vantagem. Você é obrigado a ter uma logística, por exemplo, para fazer uma longa caminhada, para viajar ou para desempenhar atividades que exijam muito esforço, como o alpinismo, mas é possível beber socialmente, enfim, manter-se vivo e saudável, e, por alguns momentos até esquecer que você tem diabetes.”
TENTAÇÃO
A vendedora autônoma Maria Regina Carvalho, de 64, assume que não resiste aos doces em festas de criança. Diabética desde os 46 anos, ela conta que a doença surgiu silenciosamente. “Nem percebi e até hoje nunca tive nenhum sintoma. Apenas fui fazer um exame de sangue de rotina e o médico me deu a notícia de que eu estaria com pré-diabetes. Depois que entrei na menopausa, aí, sim. Fiquei sabendo que estava com diabetes”, diz.
Cerca de 15 anos depois, Maria Regina passou a tomar duas doses de insulina – pela manhã e à noite –, além do medicamento de ação prolongada, também duas vezes por dia. O que ela procura fazer é evitar açúcar, macarrão e outros alimentos que aumentam a glicose.
Na família, o histórico de diabetes existe. Sua mãe morreu devido à doença e já não enxergava mais, além de outros dois irmãos diagnosticados com o mal. “Tento ir sempre ao endocrinologista, de três em três meses, para checar minha glicemia. Não é fácil ficar longe de doces, mas a gente acaba se acostumando. O diabetes é uma doença ingrata”, lamenta.
Fonte: Saúde Plena – Estado de Minas – 24/06/2017.
*A jornalista viajou a convite da Novo Nordisk.