Há sete anos a pedagoga Ismênia Oliveira Santos, de 25, conseguiu na Justiça o direito de receber ampolas de insulina Lantus do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede). Desde dezembro, no entanto, a diabética tira dinheiro do próprio bolso para custear o tratamento, já que o medicamento deixou de ser distribuído na unidade. O caso não é isolado. Segundo o movimento Rio Pelo Diabetes, a falta de remédios e insumos como as tiras medidoras de glicemia virou rotina nas redes de saúde do estado e do município.
— Estamos enfrentando uma situação crítica por causa do desabastecimento. A gente precisa da fita para medir a glicemia antes de aplicar a dose de insulina. Caso contrário, podemos ter hipoglicemia ou hiperglicemia, o que pode levar a uma série de complicações e até à morte — desabafa Sheila Vasconcellos, de 46 anos, do Rio Pelo Diabetes, que não encontrou tiras reagentes no Iede nem no Centro Municipal de Saúde de Irajá.
A estudante Mayra Cristina da Silva Hipólito, de 20 anos, é outra vítima do descaso. Moradora do morro Pavão-Pavãozinho, ela se viu obrigada a comprar caixas de tiras após ser informada que o material está em falta na Clínica da Família da comunidade.
— O salário que ganho como estagiária é para ajudar nas despesas de casa, mas agora gasto quase tudo na farmácia — desabafa a jovem.
A endocrinologista Anna Gabriela Fuks, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, alerta para os riscos a que estão expostos pacientes de diabetes Tipo 1 que ficam sem a insulina ou que fazem o tratamento de maneira incorreta:
—É uma doença muito séria que pode levar à morte. Essas pessoas precisam de dois tipos de insulina. Uma que tem um efeito mais lento e a outra que age de imediato. Como se trata de uma doença autoimune, o pâncreas acaba perdendo a capacidade de produzir insulina, fazendo com que a glicose não entre nas células e continue no sangue.
A direção do Iede diz, em nota, que processo de compra da insulina Lantus (glargina) foi realizado recentemente, “porém não houve nenhum representante interessado”. O instituto informa que a unidade está abastecida de insulina Humalog (lispro) para atender aos pacientes cadastrados. Sobre as tiras reagentes, o órgão diz que a distribuição “está sendo feita regularmente aos pacientes internados na unidade”. Já para os pacientes que fazem acompanhamento laboratorial (uso externo), a reposição do insumo está sendo providenciada.
Fonte: por Pedro Zuazo e Ricardo Rigel do extra.globo.com de 17/01/2017