– No Brasil, qual porcentagem de pessoas com IL (intolerância à lactose)? Em qual faixa etária há maior concentração de pessoas com IL? Essa estimativa tende aumentar? Pode estimar uma porcentagem e um período (ex: 10% em 10 anos).
R: Ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e raça. Apenas 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose. No Brasil estima-se em 40% das pessoas apresentam hipolactasia do “tipo adulto” que se inicia após os 3 anos de idade.
– Por que cada vez mais vemos casos de IL? Quais os fatores por trás disso?
R: O avanço nos métodos diagnósticos e maior reconhecimento clínico e laboratorial da IL
– O que é, de fato, a intolerância à lactose? Qual o impacto desse problema na vida de uma pessoa? Ela é vilã, mesmo?
R: A lactose é o açúcar de quase todos os leites. Quando ingerimos, esta substância é quebrada em dois açúcares menores (galactose e glicose), os quais são absorvidos no intestino delgado, alcançam a corrente sanguínea e, então, são utilizadas como fonte de energia pelas células. A lactase é a enzima que faz esta quebra. A lactose não é digerida quando há deficiência parcial ou total da lactase, alcançando o intestino grosso (cólon). Desse modo, as bactérias do cólon metabolizam a lactose absorvida em gases que são responsáveis pelos sinais e sintomas da intolerância à lactose.
– Quais os tipos que existem?
R: Existem três tipos de intolerância à lactose de causas diferentes. Abaixo, estão os detalhes gerais que caracterizam cada um desses grupos:
1) Hipolactasia do “tipo adulto”: ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e raça. Apenas 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose, que se inicia após os 3 anos de idade, podendo ser observados progressivamente em pessoas mais velhas. Ressalte-se que a intolerância à lactose em pessoas com hipolactasia do tipo adulto é uma doença de natureza genética e ocorre em pessoas com predisposição;
2) Intolerância congênita à lactose: forma muito rara, que impede o aleitamento materno exclusivo e se manifesta logo após o nascimento. O recém-nascido tem que ser alimentado com uma fórmula para lactentes sem lactose. Trata-se de uma doença genética.
3) Intolerância secundária à lactose: doença adquirida devido a algumas entidades que causam lesões ao intestino delgado. Ocorre deficiência temporária de lactase, que, após períodos de tempo variáveis, retorna aos valores normais, uma vez controlados os fatores desencadeantes. Entre eles estão: diarreia causada por gastroenterite viral, giardíase, alergia ao leite bovino e doença de Crohn. Também pode ocorrer em bebês prematuros, ainda incapazes de produzir lactase em quantidade suficiente.
– Qual é a diferença entre IL e a alergia à proteína do leite da vaca?
R: A IL é uma patologia relacionada à deficiência da enzima lactase , que “quebra” a lactose.
A alergia é o desenvolvimento de autoanticorpos pelo sistema imunológico contra algumas proteínas do leite.
– Quais os sintomas da IL?
R: As manifestações clínicas são mais ou menos intensas, dependendo da quantidade de lactose ingerida, transito intestinal, idade do paciente e expressão do gene responsável pela síntese de lactase. Aparecem entre 30 minutos a duas horas após a ingestão de laticínios. As mais comuns são: inchaço abdominal, cólicas, gases, flatulência, diarreia, assaduras, náuseas, vômitos, câimbras e algumas vezes constipação intestinal.
– Quanto tempo duram esses sintomas?
R: Vide resposta anterior.
– Como diagnosticar intolerância à lactose?
R: Para ser feito o diagnóstico desta intolerância alimentar podem ser adotados os seguintes procedimentos:
1) Métodos clínicos: retira-se todos os alimentos com lactose da dieta e os sintomas acabam em dias ou semanas. Trata-se do procedimento mais empregado;
2) Teste respiratório para pesquisar eliminação de hidrogênio em amostras de ar expirado: na sua
execução, a lactose não absorvida é fermentada no cólon, levando à produção de hidrogênio. Parte deste gás é absorvido pelo intestino, alcança a corrente sanguínea e é eliminado no ar expirado dos pulmões em concentrações aumentadas;
3) Teste de tolerância à lactose: após a ingestão de lactose, pessoas sem esta doença apresentam elevação da glicemia (glicose formada pela quebra da lactose) a valores maiores que 20 mg/dL em relação ao jejum. Estas variações não são observadas nos intolerantes;
4) Teste genético: quando se suspeita de intolerância primária ou congênita à lactose é possível avaliação gênica para detectar a presença de mutações que proporcionam a característica de persistência da produção de lactase e tolerância à lactose.
– Existe tratamento? Quais?
R: Existem medicamentos com a enzima lactase para o uso quando for preciso ingerir lactose em situações especiais. Esta enzima é encontrada em apresentações de pó, pílulas ou líquido e deve ser ingerida logo antes do alimento para a digestão da lactose.
– Essa intolerância é pra vida inteira ou pode ser só por um tempo?
R: Sim, é uma condição irreversível.
– O que comer quando se tem intolerância à lactose?
R: O tratamento consiste na redução da ingestão de lactose presente em laticínios. Este procedimento costuma ser suficiente. Quanto mais intolerante for a pessoa, menor deve ser a quantidade do açúcar ingerido para que não ocorram sintomas. Saber se o alimento tem lactose e em qual teor é fundamental para o paciente. Para os casos mais graves, encontra-se leite e outros produtos com redução de 80% a 90% da lactose. No Brasil, muitos alimentos industrializados não têm informação sobre a presença de lactose e seu teor.
– Quanto de lactose tem nos seguintes alimentos: (em 100 g ou em 100 ml)
* leite materno
* leite de vaca
* iogurte
* queijo parmesão
* queijo minas
* queijo cottage
* leite condensado
* manteiga
* leite de cabra
* queijo ricota
* queijo muçarela
R: Na tabela a seguir está listada a quantidade aproximada de lactose nos alimentos lácteos mais comuns, para que seja mais fácil saber quais os alimentos que se deve evitar e aqueles que podem ser ingeridos, mesmo que em pouca quantidade.
Alimentos com mais lactose (que se deve evitar)
- Proteína Whey = 75
- Leite condensado desnatado = 17,7
- Leite condensado integral = 14,7
- Queijo tipo Philadelphia aromatizado = 6,4
- Leite de vaca integral = 6,3
- Leite de vaca desnatado = 5,0
- Iogurte natural = 5,0
- Queijo Cheddar = 4,9
- Molho branco (bechamel) = 4,7
- Leite achocolatado = 4,5
- Leite de cabra integral = 3,7
Alimentos com menos lactose (que se pode ingerir em pouca quantidade)
Alimento (100 g) = Quantidade de lactose (g)
- Pão-de-forma = 0,1
- Cereais musli = 0,3
- Bolacha com pepitas de chocolate = 0,6
- Bolacha tipo Maria = 0,8
- Manteiga= 1,0
- Bolacha recheada= 1,8
- Queijo cottage = 1,9
- Queijo Philadephia = 2,5
- Queijo Ricotta = 2,0
- Queijo Mozzarella = 3,0
– Quais alimentos têm lactose e as pessoas nem desconfiam?
R: Adoçantes artificiais em pó é um exemplo de alimento que contem lactose e ninguém sabe ; via de regra basta verificar a composição do alimento na embalagem.
– O que são os alimentos enzimados?
R: Via de regra , são alimentos que receberam tratamento para redução dos níveis de lactose , geralmente com o uso da LACTASE na manufatura/tratamento do produto.
– O que explica o boom de alimentos sem lactose nas prateleiras? Qual a relação do zero lactose com o emagrecimento? Se eu não tenho IL ganho algum benefício em consumir um zero lactose? Qual?
R: A quantidade crescente de diagnosticados nos últimos anos criou uma pressão e demanda de consumidores desses alimentos, explicando seu surgimento e grande proliferação; Pode haver diminuição da quantidade de calorias nestes alimentos, quanto acompanhada de dietas restritivas de calorias.
– Quais os cuidados com um bebê que apresenta IL? A mãe precisa mudar a alimentação?
R: O leite materno apesar de conter lactose é facilmente digerido pelo bebê e não é capaz de provocar intolerância. Sendo assim, o bebê que possui intolerância à lactose pode continuar a ser amamentado pelo leite materno.
– No caso das crianças com IL, há algum tipo de recomendação específica?
R: Os mesmos cuidados dispensados aos adultos.
Referencias:
Sociedade Brasileira de Pediatria Disponível em: https://www.sbp.com.br/Organização Mundial da Saúde. Disponível em: https://www.who.int/Conselho Federal de Medicina. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/
PubMed – Base online de artigos de revistas científicas. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed