- De acordo com um novo estudo, testar o quão bem a lipoproteína de alta densidade (HDL), ou “bom” colesterol reduz a inflamação, pode ajudar a identificar pessoas com maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares associadas à aterosclerose.
- No estudo, a capacidade antiinflamatória do colesterol bom foi maior em pessoas que não tiveram eventos cardiovasculares do que naquelas que tiveram.
- Com base nas descobertas, cada aumento de 22% no HDL antiinflamatório reduziu o risco de sofrer um evento cardiovascular durante os próximos 10 anos em 23%. O efeito protetor do aumento da capacidade antiinflamatória de HDL foi maior nas mulheres do que nos homens.
Os pesquisadores sabem que o HDL, ou colesterol bom, reduz a inflamação. Em níveis saudáveis, o HDL também pode reduzir o risco de derrame e ataque cardíaco.
Até agora, os ensaios de intervenção usando medicamentos para melhorar ou aumentar os níveis de HDL não tiveram sucesso. Também alguma pesquisa genética indica que níveis altos ou baixos de HDL ao longo da vida não parecem estar relacionados a desfechos cardiovasculares, como esperado.
É por isso que alguns pesquisadores de prevenção de risco cardiovascular estão mudando seu foco dos níveis circulantes de HDL para a capacidade funcional real do HDL.
De fato, uma equipe de pesquisa da Holanda estudou a relação entre a capacidade do HDL de reduzir a inflamação e o risco de sofrer um primeiro evento cardiovascular.
“HDL são partículas muito complexas com funções anti-ateroscleróticas que não são refletidas pela medição apenas da quantidade de colesterol”, disse o autor sênior do estudo, Dr. Uwe JF Tietge, Ph.D., professor e chefe da Divisão de Química Clínica do Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia.
“A aterosclerose [acúmulo de placa nas artérias] a doença cardiovascular subjacente é cada vez mais reconhecida como uma doença com um forte componente inflamatório, e uma função biológica central do HDL é diminuir a inflamação”.
Ao analisar dados de 680 adultos, a equipe encontrou evidências que sugerem que a capacidade do HDL de reduzir a inflamação está associada a um risco reduzido de um evento cardiovascular.
No estudo, as pessoas que não tiveram um evento cardiovascular demonstraram níveis de HDL antiinflamatórios mais altos do que os participantes que tiveram um evento cardiovascular.
“Usando uma nova ferramenta de pesquisa, nossos resultados fornecem um forte suporte para o conceito de que o acúmulo de placa nas artérias tem um componente inflamatório e que as propriedades biológicas das partículas de HDL têm relevância clínica para a previsão do risco de doenças cardiovasculares.”
– Dr. Uwe JF Tietge, Ph.D.
O estudo foi publicado na revista Circulation , que é o principal jornal da American Heart Association (AHA). Recebeu financiamento da Organização Holandesa para Pesquisa Científica e da Fundação Sueca Heart-Lung.
HDL: Um Antiinflamatório Natural
O HDL é chamado de colesterol bom porque pega o excesso de colesterol no sangue e o leva de volta ao fígado, que o decompõe e ajuda a removê-lo do corpo.
O HDL também pode reduzir a inflamação nas células que revestem os vasos sanguíneos. Isto ocorre porque o HDL remove o colesterol armazenado nas células espumosas dos macrófagos nas placas ateroscleróticas e o transporta para o fígado.
A aterosclerose ocorre quando a placa se acumula nas paredes internas das artérias. A placa é uma substância feita de colesterol, cálcio, gordura e outras moléculas.
À medida que os depósitos de placas crescem, eles podem estreitar gradualmente os vasos sanguíneos, reduzindo o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio a partes do corpo ou órgãos.
Se a aterosclerose for grave o suficiente, pode levar a grandes problemas de saúde, incluindo acidente vascular cerebral, ataque cardíaco e morte.
Quando o HDL remove o colesterol das células espumosas das placas, ajuda a reduzir o tamanho da placa. Ao reduzir seu tamanho, também reduz a quantidade de inflamação associada à placa.
Por causa desses fatores, os profissionais de saúde geralmente incluem os níveis circulantes de HDL em muitas ferramentas de avaliação de risco cardiovascular.
No novo estudo, os pesquisadores incluíram participantes de um estudo maior: o Estudo PREVEND (Prevenção de Doenças Renais e Vasculares em Estágio Final).
O estudo PREVEND começou em 1998 e está investigando a relação entre doenças cardiovasculares e danos renais. O estudo tem cerca de 40.856 participantes, todos adultos que vivem na cidade de Groningen, no norte da Holanda.
A partir desse enorme grupo de participantes, os pesquisadores por trás do novo estudo selecionaram 680 participantes. Eles excluíram pessoas que tiveram um evento cardiovascular antes do período de acompanhamento do programa.
Os pesquisadores usaram esses 680 participantes para criar 340 pares de indivíduos caso-controle. Isso significava que havia dois grupos: um grupo experimental de 340 pessoas que tiveram um evento cardiovascular inicial durante o período de rastreamento do PREVEND e 340 pessoas que não tiveram.
O termo “pares caso-controle” refere-se ao fato de que os indivíduos do grupo experimental foram pareados com alguém do grupo controle que tinha o mesmo sexo, o mesmo status de tabagismo e níveis semelhantes de HDL. Cada pessoa em um par tinha uma idade dentro de 5 anos da outra.
No estudo, os pesquisadores definiram um evento cardiovascular como um ataque cardíaco não fatal ou fatal, receber um diagnóstico de doença isquêmica do coração ou fazer uma cirurgia para abrir artérias coronárias obstruídas.
Os pesquisadores extraíram o HDL das amostras de sangue dos participantes e avaliaram o quanto ele era capaz de reduzir as respostas inflamatórias nas células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos.
Eles também mediram os níveis da proteína C reativa dos participantes, que é uma substância que aumenta em resposta à inflamação de todo o corpo.
Os pesquisadores também avaliaram a capacidade de fluxo de colesterol dos participantes. Isso se refere à eficácia com que seu HDL remove o colesterol de células semelhantes às da placa.
Após a análise, os pesquisadores descobriram que a capacidade antiinflamatória do HDL era maior em pessoas que não experimentaram eventos cardiovasculares (31,6%) do que em pessoas que tiveram (27%) durante o período de acompanhamento (1997–2009). Para cada aumento de 22% na capacidade antiinflamatória de HDL, o risco de sofrer um evento cardíaco durante os próximos 10 anos é reduzido em 23%.
As capacidades antiinflamatórias de HDL dos participantes não foram relacionadas aos níveis de colesterol HDL circulante, eficiência de efluxo de colesterol ou níveis de proteína C reativa. O efeito protetor do aumento da capacidade antiinflamatória de HDL foi mais poderoso nas mulheres do que nos homens.
Melhorar a Previsão de Risco Cardiovascular
É importante ressaltar que a equipe também foi capaz de melhorar a previsão do risco cardiovascular fatorando a capacidade antiinflamatória de HDL no Índice de Risco de Framingham ou substituindo os níveis de HDL pela capacidade antiinflamatória de HDL na fórmula.
A Pontuação de risco de Framingham é uma ferramenta comum que os profissionais de saúde usam para avaliar o risco de desenvolver doença arterial coronariana (DAC) durante os próximos 10 anos. É responsável por seis fatores de risco CAD:
- idade
- sexo
- níveis de colesterol total
- níveis HDL
- pressão arterial sistólica
- hábitos de fumar
Os pesquisadores escrevem que suas descobertas podem ter implicações clínicas importantes, fornecendo aos profissionais de saúde mais informações para avaliar o risco de DAC.
Se a capacidade de inflamação do HDL afeta o risco de CAD mais do que os níveis de HDL, eles também podem ajudar a tornar mais precisas as ferramentas de avaliação de risco usadas atualmente.
Suas descobertas também podem encorajar os pesquisadores a encontrar medicamentos para direcionar ou melhorar a capacidade de inflamação do HDL. Isso poderia oferecer aos profissionais de saúde e às pessoas com risco de DAC, um novo caminho para os tratamentos preventivos.
As limitações do estudo significam que os cientistas devem agora reproduzir essas descobertas em um grupo de indivíduos muito maior e muito mais diverso.
O estudo incluiu quase exclusivamente participantes brancos. Pouco menos de 240 dos 340 pares de caso-controle no estudo eram do sexo masculino. Os pesquisadores também não incluíram informações sobre a incidência de AVC no estudo.
Além disso, os participantes do estudo eram geneticamente semelhantes, vindos da mesma região relativamente pequena do mundo.
Também não há métodos padronizados de como isolar o HDL do plasma ou como testar as habilidades funcionais do HDL.
Ainda assim, apesar das desvantagens do estudo, os pesquisadores estão otimistas sobre suas descobertas e o que elas podem significar para milhões de pessoas daqui para frente.
“O nível de colesterol HDL é um biomarcador de risco [doença cardiovascular] bom, estabelecido, simples e de baixo custo”, diz o Dr. Tietge.
“Nossos resultados, no entanto, demonstram que a capacidade antiinflamatória ou os ensaios que analisam a função HDL em geral têm o potencial de fornecer informações clinicamente relevantes além das medições estáticas de colesterol HDL que são usadas atualmente.”
Fonte: Medical News Today- Escrito por Jennifer Huizen em 22 de abril de 2021 – Fato verificado por Anna Guildford, Ph.D.