Alguns pacientes com diabetes tipo 2 e melhora significativa da saúde após a adoção de uma dieta com baixo teor de carboidratos (low-carb) devem ajustar os seus medicamentos, de acordo com novas orientações.
Um protocolo de redução dos hipoglicemiantes para os pacientes que melhoraram o controle glicêmico ao fazer um programa alimentar com baixo teor de carboidratos foi publicado no periódico British Journal of General Practice.
“A estratégia de baixo consumo de carboidratos é muito popular agora na prática clínica”, disse ao Medscape, o Dr. Campbell Murdochm autor do estudo.
“Uma das razões para isso é que é muito fácil de implementar – você não precisa de nenhum outro recurso”.
O Dr. Campbell, clínico geral e diretor médico do Diabetes Digital Media, que fornece o programa de baixo consumo de carboidratos, acrescentou: “Em termos de melhora da saúde, é impossível não melhorar o diabetes tipo 2, reduzindo os carboidratos. Todos que reduzem a ingestão de carboidratos irão, de algum modo, melhorar seu diabetes tipo 2”.
Mais de 417.000 pessoas se inscreveram na plataforma digital desde 2015. O programa é vendido, mas também pode ser acessado gratuitamente em algumas regiões através do National Health System (NHS) do Reino Unido.
Um ano de resultados do programa distribuído por meios digitais para 1.000 pacientes, publicado no periódico JMIR Diabetes em 2018, concluiu que:
- A média de perda de peso foi de 7,45 kg
- A média de redução de hemoglobina glicada (HbA1c) foi de 1,2%/13mmol/mol
- 40,4% dos pacientes em uso de medicamentos eliminaram pelo menos um deles
- 60% dos pacientes usando insulina suspenderam ou reduziram a dose
Insulina, sulfonilureias e meglitinidas
Segundo o artigo, existem três principais considerações clínicas ao se avaliar a segurança de tomar medicamentos para o diabetes tipo 2 fazendo dieta com baixo teor de carboidratos.
- Existe o risco de o medicamento causar hipoglicemia ou outros eventos adversos?
- Qual é o grau de restrição de carboidratos?
- Ao reduzir os carboidratos, o medicamento continua a trazer benefícios para a saúde e, em caso afirmativo, os possíveis benefícios do medicamento são maiores ou menores do que os eventuais riscos e efeitos colaterais?
O guia afirma que a experiência prática sugere que a redução de 50% da insulina diária ao iniciar o programa seria apropriada na maioria dos casos. No entanto, os pacientes com níveis acentuadamente elevados de HbA1c podem só conseguir fazer uma redução inicial de 30% .
Alguns pacientes podem esperar parar totalmente de usar insulina em dias ou meses, com a resolução da resistência à insulina , disse Dr. Campbell.
“E, a seguir, as sulfonilureias e meglitinidas”, continuou o médico.
“O ajuste tem de ser imediato – cerca de 50% de redução ao início e, na sequência, continuar o desmame”.
Inibidores SGLT2 e risco de cetoacidose diabética
O protocolo também listou os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2, do inglês Sodium-Glucose Cotransporter 2) ou (“flozinas”) que podem precisar de ajuste para os pacientes fazendo dieta com baixo teor de carboidratos pelo aumento do risco de cetoacidose diabética.
“Assim, o consenso é: vamos resolver o problema, então não vamos correr esse risco,” disse o Dr. Campbell.
- Metformina
- Análogos do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP1, do inglês Glucagon-Like Peptide-1) (“-enatidas” e “glutidas”)
- Tiazolidinedionas (“glitazonas”)
- Inibidores da dipeptidil peptidase 4 ou DPP4 (“gliptinas”)
- Acarbose
- Glicemia capilar
“A metformina tem muitos benefícios potenciais, então eu certamente não teria pressa de suspender o seu uso para ninguém”, disse o Dr Campbell.
Fonte: Medscape , por Peter Russell, 24 de julho de 2019