Especialistas alertam para a real necessidade dos componentes alimentares que beneficiam a saúde, além dos nutricosméticos, fórmulas para a beleza administradas oralmente.
Nem um, nem outro, mas um pouco dos dois. Esse é o conceito de dois produtos que ganham cada vez mais atenção dos brasileiros: os nutracêuticos, alimentos ou parte de alimentos com benefícios médicos, tanto na prevenção quanto no tratamento; e os nutricosméticos, fórmulas e suplementos orais em forma de cápsulas, gomas, chocolates e pastilhas, para promover benefícios na aparência física. De objetivos distintos, mas de ideias semelhantes, ambos conquistaram adeptos pela agilidade nos cuidados da saúde e da beleza. Mas especialistas alertam: apesar dos benefícios comprovados, há casos específicos para a indicação e trocar uma dieta equilibrada pelas facilidades das cápsulas não é a escolha mais acertada.
Para Gabriel Gontijo, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os nutricosméticos, por exemplo, são uma opção quando não se tem uma dieta rica em vitaminas. “Feitos de substâncias antioxidantes, que previnem o envelhecimento, eles não adiantam se não se tem a deficiência, caso em que vale a pena fazer uma complementação. Se a pessoa tem uma boa alimentação, com alimentos ricos em flavonoides, polifenóis, vitamina C e carotenoides, encontrados, por exemplo, em alimentos amarelados como cenoura, mamão e também no brócolis, não há necessidade de tomar nada”, defende.
O médico acredita que o modismo possa ser arriscado se as pessoas passarem a priorizar as cápsulas aos alimentos. Um estudo inglês recente comparou pessoas que consumiram vitaminas em cápsulas com aquelas que tiveram acesso a elas pela alimentação. “As que focaram a alimentação tiveram melhores efeitos. As cápsulas não substituem o alimento”, esclarece.
”Como não se trata de um remédio controlado, os efeitos são sutis, mas eficazes” — Jéssica Viganó
Segundo a nutricionista Renata Rodrigues, do Instituto Mineiro de Endocrinologia, a absorção dos nutrientes na alimentação é muito maior quando comparada às cápsulas. “A comida é sempre a primeira escolha”, defende a especialista, segundo a qual os nutracêuticos são receitados há muito tempo, embora só mais recentemente as pessoas tenham compreendido seus reais benefícios para a saúde.
MODISMO
Os nutracêuticos representam o segmento que mais cresce na indústria de alimentos em todo o mundo, sendo, também, ramo importante da indústria farmacêutica. O uso desses compostos de forma consciente e segura traz benefícios à população. Mas, segundo Laís Bhering Martins, mestre e doutoranda em ciências de alimentos pela UFMG, muitos componentes isolados de alimentos são vendidos sem necessidade de prescrição e consumidos pela população sem acompanhamento de profissional capacitado, podendo, assim, exercer efeitos maléficos. Para que não se torne modismo, é importante que a população e os profissionais de saúde tenham senso crítico ao consumir ou indicar esses produtos.
Estratégias terapêuticas
Nutracêutico, junção das palavras “nutrição” e “farmacêutica”, foi um termo criado em 1989 para designar uma variedade de componentes da dieta, que inclui alimentos funcionais, nutrientes isolado e alimentos processados ou geneticamente modificados. As classes mais disseminadas são as fibras dietéticas, ácidos graxos poli-insaturados (ômega-3), minerais e outros componentes alimentares antioxidantes (glutationa, selênio, vitamina C, vitamina E). Há séculos, componentes presentes em alimentos e produtos naturais são usados popularmente no tratamento de doenças e sintomas, mas, com o auxílio da tecnologia, eles puderam ser isolados e empregados em diversas condições. O estudo e desenvolvimento de nutracêuticos tem como objetivo promover novas estratégias terapêuticas que complementam a ação dos medicamentos convencionais.
Tratamento e prevenção de doenças
Entre os inúmeros ganhos ao consumi-los, especialistas ressaltam que os nutracêuticos diminuem a incidência de câncer e de acidente vascular cerebral Os nutracêuticos são indicados para quem não consegue se alimentar corretamente ou quando traz benefícios para o tratamento de alguma patologia. “São inúmeros os ganhos em consumi-los. Eles melhoram o perfil lipídico e a função intestinal, diminuem a incidência de câncer, acidente vascular cerebral, arteriosclerose e enfermidades hepáticas”, explica a nutricionista Renata Rodrigues, segundo a qual alimentos funcionais e nutracêuticos são praticamente sinônimos. “A diferença é que o alimento funcional é o alimento propriamente dito, e o nutracêutico é como se fosse o ‘princípio ativo’ que traz o real benefício”, explica.
Segundo Laís Bhering, um alimento funcional também pode ser um nutracêutico. Uma das principais diferenças conceituais entre eles é o fato de os nutracêuticos incluírem suplementos dietéticos e outros alimentos capazes de tratar ou prevenir doenças, enquanto os alimentos funcionais devem estar na forma de um alimento comum e apenas a redução do risco de doenças já é relevante. Isso também explicaria o fato de a dieta personalizada, respeitando as necessidades especificas de cada indivíduo, ser o mais adequado. Os alimentos funcionais têm componentes que exercem efeito benéfico à saúde, como o ômega-3 dos peixes de águas frias e profundas; os flavonoides do suco de uva; os glicosinolatos do brócolis, couve-flor, couve-manteiga e repolho.
“A principal diferença de consumir um componente isolado de um alimento é o fato de ingerirmos apenas uma parte daquele alimento e, muitas vezes, de forma mais concentrada. Um alimento é uma matriz complexa de componentes, que inclui carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas, minerais e fitoquímicos. Ao tomarmos suco de uva, por exemplo, ingerimos todos os componentes presentes nele, incluindo os flavonoides, considerados um nutracêutico. Podemos usufruir dos benefícios proporcionados pelos nutracêuticos ao consumirmos um alimento que é fonte desses componentes em uma dieta equilibrada, sem necessidade de suplementação dietética”, diz.
Entretanto, o uso de componentes alimentares isolados pode contribuir no tratamento de diversas doenças. “Essa é uma estratégia interessante para determinados indivíduos, desde que seja realizada com orientação de um profissional capacitado”, defende a nutricionista e pesquisadora. Os nutracêuticos, portanto, devem ser indicados de forma individualizada. Os ganhos ao consumi-los dependem da necessidade de cada indivíduo. Quando utilizados de forma segura, com indicação de nutricionista ou médico, esses componentes auxiliam no tratamento e prevenção de doenças e apresentam menores efeitos colaterais que medicamentos convencionais.
PERDA DE PESO
A designer de interiores Jéssica Viganó, de 26 anos, conheceu os nutracêuticos por meio de sua nutricionista, em sua busca de perda de peso. Para Jéssica, a dieta sozinha não dá conta de resolver o excesso de peso. “É necessário exercício físico e, principalmente, acompanhamento psicológico, pois o excesso de peso está, na maior parte das vezes, associado a outros quadros clínicos de doenças, como o estresse e a ansiedade da vida moderna. Fórmulas também ajudam bastante”, acredita.
E foi assim que ela não teve dúvidas de recorrer aos nutracêuticos. Já usou chá-verde, colágeno e fibras naturais, além de complexos de vitamina e fórmulas manipuladas pela nutricionista. “Como não se trata de um remédio controlado, os efeitos são sutis, mas eficazes.” Jéssica consome as cápsulas à noite, nas últimas refeições do dia. “Tive bons resultados em todas as indicações, desde as vitaminas complementares até o complexo receitado em fórmula natural pela nutricionista, para aliviar a ansiedade, como auxiliar no tratamento” conta.
Fonte: Saúde Plena , por Carolina Cotta – Estado de Minas
Publicação:17/01/2016